É proibido proibir

Publicado  quarta-feira, 9 de junho de 2010

Pessoal, na teoria, e na prática também vai, hoje temos muita liberdade de expressão.

As conhecidas redes sociais, que não param de crescer, ainda dão um up pra gente fazer o que quiser. Conversamos em tempo real, sem ninguém ficar nos cortando, mandamos nossos recados e divulgamos nossos gostos e opiniões para o mundo todo ver.

Mas, nem sempre foi assim.

A censura, predominante no Regime Militar no Brasil, calou a boca de muita gente.

Imaginem que as músicas, que embalam nossas vidas e baladas, as produções literárias, artísticas, cinematográficas, os nossos filmes e novelas e, principalmente, a imprensa foram vítimas da repressão.

Com a entrada do AI-5 (vide o box ao lado), o governo tentou camuflar atos como as torturas e desaparecimentos constantes durante os “Anos de Chumbo”.

Proibidos de noticiar os fatos que ocorriam no país naquela época, os jornais eram obrigados a publicar, no lugar das reportagens, poemas e receitas de culinária, que, às vezes, nem davam em nada.

Eis que os artistas da MPB encontraram na música uma forma de tentar alertar a população do estava acontecendo, ao mesmo tempo em que driblavam a atenção dos militares. Escreviam letras de música com duplo sentido, como, por exemplo, a música Cálice, composta por Chico Buarque de Holanda. Além de o título lembrar a palavra Cale-se, de calar a boca mesmo, os versos poderiam ser confundidos com uma súplica.


                    Pai, afasta de mim esse cálice
           De vinho tinto de sangue
                         Como beber dessa bebida amarga
                  Tragar a dor, engolir a labuta
                            Mesmo calada a boca, resta o peito
                     Silêncio na cidade não se escuta

Ainda bem que, na maioria das vezes, os militares só se ligavam que as músicas se tratavam de um protesto quando já tinham caído na boca do povo. Caso contrário, antes mesmo de serem gravadas, já eram barradas.

Vários artistas da época e alguns que fazem sucesso até hoje foram alvos da repressão e do exílio. A lista é grande, mas dos que mais se ouve falar até hoje são Caetano Veloso, Chico Buarque, Elis Regina, Gilberto Gil, Kid Abelha, Milton Nascimento, Raul Seixas e por aí vai.

Mas, a caça da censura não parava por aí, pois nem mesmo a literatura escapou.

Monteiro Lobato, autor de obras infantis de grande sucesso, foi fortemente perseguido, chegando até a ser preso pelo governo de Getúlio Vargas.

O livro Zé Brasil, escrito por Lobato em 1947, tinha a capa estampada com o velho Jeca Tatu, um trabalhador rural sem terra. A obra defendia os pequenos agricultores e atacava a estrutura agrária brasileira. A crítica política - porém apartidária - do livro desagradou as autoridades da época e ele foi considerado perigoso à segurança nacional, o que resultou na apreensão e censura do livro.

Já para os noveleiros de plantão, resta saber que as novelas também tiveram cenas cortadas ou simplesmente tinhas suas estréias barradas.

Vocês já devem ter ouvido falar de Roque Santeiro. Pois bem: a Rede Globo colocaria a novela no ar, pela primeira vez, em 1975. Com vários capítulos gravados e chamadas anunciando sua estreia, no grande dia, a emissora recebeu um oficio do governo federal censurando a telenovela. Tudo isso por causa de uma escuta telefônica, na qual Dias Gomes, o autor da novela, dizia que Roque Santeiro era apenas uma forma de enganar os militares, adaptando a peça O Berço do Herói para a televisão. A peça, da década de sessenta, também foi censurada, justamente por fazer uma crítica ao regime político predominante da época. Com tudo isso, Roque Santeiro só pode ir ao ar dez anos depois, ou seja, em 1985, ano em que terminou a Ditadura Militar no Brasil.

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